quarta-feira, 4 de junho de 2008

Os incompreendidos

Por Fernando Assumpção

Um amigo pelo telefone: “Como é caro consumir cultura no Brasil!”. Ele falava de um único filme (na justificativa dele) em DVD, de François Truffaut. De imediato concordo; porém, percebo que existe hoje um relaxamento com o consumo em cultura. Frouxidão, mesmo. As pessoas não se importam, ou não percebem que consumir qualquer outra coisa é tão caro quanto consumir cultura. Não percebem que os bens culturais trazem tantos benefícios quanto outros bens de consumo. Porém, com as funções de satisfação e prazer, funcionam como alimento à sensibilidade e à subjetividade.

O Cinema é dito como caro? Um chope com os amigos é o mesmo preço. O valor de um CD não é um absurdo se compararmos com um jantar naqueles antigos “Galetos” do centro da cidade ou dos bairros decadentes da zona sul.

E por aí se percebe que a cultura está ficando de lado. Uma espécie de preferência ou descaso de consumo. Como se o fato de uma cópia pirata substituísse todo o impacto que um CD ou um DVD proporciona. A não ida a um cinema ou a um espetáculo teatral anula a emoção de estar lá. Faz parte da construção da subjetividade dos indivíduos circularem pelos espaços culturais e se sentirem pertencentes a eles. Como parte, mesmo; aproveitando todo prazer que não é substituído por nenhuma outra saída.

A ida ao Maracanã, talvez, seja somente substituída pela ida ao sambódromo. Não se compara, é claro! Mas a emoção de quando a bateria de uma escola passa é tal qual quando se faz um gol. As energias das pessoas transbordam de seus corpos e irradiam um todo. Da repartição, da convivência, do momento único que um espetáculo presta.

Os preços dos bens culturais oferecidos, por diversas vezes são caros e, em muitas delas, abusivos. Até que ponto é falta de grana ou falta de vontade?

A cultura como a música dos titãs vociferando: desejo, necessidade e vontade.

E nessa mesma onda do rádio de pilha, entre as Americanas e a Modern Sound, mais uma loja de CD/DVD se despede no centro do Rio. Uma loja mediana, pendulando entre os preços acessíveis das Americanas e o acesso a produtos de qualidade como na famosa loja em Copacabana. É substituída por um restaurante de aperitivos japoneses, na rua São José.

Voltemos-nos ao plágio: Eu não quero só comida, quero diversão e arte.

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