terça-feira, 6 de abril de 2010

Gracioso, Croquete de milho e galera da Cedae Fernando Assumpção*

Gracioso é desses bares que conservam as características de botequim que lembram nossas infâncias, conservado a aparência como nas décadas de quarenta, cinquenta, sessenta, nesses idos entre o estrelar Dorival Caymmi e o discreto Dori. Como era, antes da reforma/investimento, o Armazém São Thiago, em Santa Teresa, mas conhecido como Bar do Gomes. As paredes divididas entre os ladrilhos bicolores e uns tantos vários quadros moldurados com reportagem: desde a deliciosa ex-coluna de Danuza, no saudoso JB; até capa do Rio Botequim de 2009, indicando, certamente, a participação no competente exemplar. Atrás do balcão, uma charmosíssima geladeira de madeira, que quase cobre a parede como um todo, nos resgata e leva para uma cidade pacata e bucólica. O croquete de camarão – conhecido como “Croquete Gracioso” – já valeria a ida: envolvido em farinha de milho e com recheio de cheddar, os camarões pulam do bolinho quando mordido. Com preço razoável já seria a pedida da noite. Porém, o bar apresenta mais oportunidades: embora, eu tenha ficado somente no croquete, vi pessoas se deliciando com os sanduíches de carne assada, pernil e queijo.
No fundo do salão se instala uma Roda de Samba. Não surpreende; os jovens músicos são competentes - e o que contribui para o aumento do clima de início de fim de semana. Apenas e só apenas. É uma pena. O clima espontâneo é valorizado pelo fato de possuir opções de cervejas suficientemente geladas e de marcas variadas como Norteña (960 mililitros), Heineken (com promoção de 4 e leve 5) e a alemã Erdinger. A “carta” (eeeita..!) de cachaça, também, surpreende. Segundo uma das minhas amigas – neste dia eu estava sortido com três belas gatas – que morou longamente no interior de Goiás, ficou satisfeita com as opções, indicou pelo menos duas ou três saborosas e, de difícil de achar aqui no Rio, cachaças, que são naturais no interior do país e dão prazer “enorme” de beber. O atendimento do Gracioso é seco, quase pragmático, quase acadêmico. Dentro do bar, funcionam dois ou três vaporizadores, que suavizam o calor.
Porem é na calçada que as mesas de pé se aprumam. A esquina do bar é praticamente composta por funcionários da Cedae. Existe o prédio da empresa estatal na mesma viela; não tenho certeza, mas acredito ser a sede. Percebo, um grupo de funcionários que brincam e se divertem:, sobretudo, invertendo os nomes do presidente da companhia, chamando-o de “Victer Wagner”. Uma alegria solta e natural de quem cumpriu uma semana de trabalho e pensam no merecido descanso.
Mas, um grupo de garotas corpulentas, daquelas com carne suficiente para serem acariciadas e envolvidas em um jogo de pernas e coxas, estão levemente seduzidas por um discurso de um rapaz de menos de trinta – quase careca – com pinta daqueles que buscam e reclamam pela cidadania, como se espelhado entre as desprezíveis virulências: a moderada, de Ricardo Boechat na Band Fluminense FM; e, na popularesca de Wagner Montes, na Record Rio. Colocando-se como um verdadeiro paraninfo da cidadania carioca atenta e insatisfeita, ele despeja o discurso. Elas o observam e até demonstram uma certa aceitação com ele, quase uma admiração, e concordam vez ou outra, mas nenhuma delas acaba a noite com ele. Preferem os mais suaves e que buscam uma amenidade perante a efervescência que a indignação de classe média provoca. Elas sabem o que querem. O rapaz, desiludido, retorna pra casa, e no taxi pede para o motorista mudar a estação. O taxista executa a tarefa; da FM O Dia para CBN e chega a balbuciar: "hoje é sexta feira..!"

Serviço: Bar Gracioso - Rua Sacadura Cabral, 97 – Saúde (ou Praça Mauá?!)

* Fernando Assumpção não tem alergia a camarões e até hoje sente falta da voz de Roxane Ré e portanto não perde nenhum “Som do Galerão”.

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