segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Opinião (os textos publicados nesta coluna refletem o pensamento dos autores, não sendo de responsabilidade ou necessária concordância geral dos membr

Bilhões, olimpíadas, assuntos e Fidel: o banheiro

Cleise Campos*


Durante palestra em cidade do noroeste fluminense, que realizava sua primeira conferência municipal de cultura, ajustando-se ao calendário do Sistema Nacional de Cultura, fogos explodem entre os rios Muriaé e Paraíba, festejando a escolha da cidade do Rio para as Olimpíadas 2016. Chegando em casa, muitas mensagens dão conta da alegria e satisfação pelo “feito” fantástico do Brasil, deixando comer poeira os gigantes USA, Japão e Espanha
Antes de pegar a estrada, rumo ao noroeste do estado, uma audiência pública na minha cidade debatia a ampliação da UERJ, considerando a presença de uma de suas mais atuantes e importantes unidades, a Faculdade de Formação de Professores – FFP (onde estudei na década de 80, no século passado). Um dos pontos em debate era a instalação de novos cursos, atendendo os exigentes “apelos” do novo milênio, com foco dirigido no mercado de óleo e gás, entre outros cursos a serem considerados: São Gonçalo é uma das cidades que compõe o bloco do CONLESTE, vivendo momento ímpar, com a instalação do COMPERJ – PETROBRÁS, de bilhões e bilhões em investimentos. Para tanto, a própria PETROBRÁS financia de pronto a construção de um novo e moderno prédio, em parceria valiosa para a UERJ.
Lendo sobre os bilhões que giram em torno da Rio 2016, e mais os bilhões que acompanham o mega investimento COMPERJ, e tanta gente festejando bilhões (Caramba! Nem se fala de milhões! Os zeros todos são mesmo de bilhões!!) penso: Que bom! Desenvolvimento e o Brasil avançando, finalmente: o futuro chegou (e nem estou falando do PRÉ SAL).
Mas é impossível deixar de considerar algumas coisas e me pergunto porque também não torcemos com o mesmo fervor e vibramos com foguetões, bilhões e mais bilhões numa super olimpíada para Educação e Cultura, com desafios inadiáveis a serem conquistados: uma lista grande de necessidades vitais, para o cumprimento do que estamos debatendo nos eixos que norteiam a II Conferência Nacional de Cultura “Cultura, Diversidade, Cidadania e Desenvolvimento” (março de 2010, em Brasília) e ainda, a I Conferencia Nacional de Educação – CONAE.
Quem sou eu para discordar de Fidel Castro e milhões de brasileiros que festejam o Rio 2016, que garante para todo o Brasil um marco histórico indiscutível, uma rede de investimentos e empregos no estado fluminense, em especial a cidade carioca, além da grande festa celebrada em torno dos esportes. E ainda, que sou eu para não entender o entusiasmo de muitos, com a possível ampliação, via PETROBRÁS, da UERJ em terras de Gonça, e as demais conquistas tecnológicas e industriais a partir do COMPERJ: tudo no Estado do Rio de Janeiro!
Mas, como sou brasileira, fluminense e uma gonçalense que acredita que TODO desenvolvimento e avanço devem se pautar prioritariamente na EDUCAÇÃO E NA CULTURA, não me sinto entusiasmada para soltar fogos, enquanto assisto, acompanho e vivencio o estado de NÃO INVESTIMENTO (de milhãozinho algum) dos respectivos governos, nas escolas, nas universidades, nas estruturas físicas e funcionais, conceituais e pragmáticas que envolvem a grande comunidade escolar - educacional e cultural da MINHA cidade, do MEU estado e do MEU país. Do salário pago aos profissionais atuantes na educação e cultura, da construção de salas de aulas para expansão de turmas, de laboratórios, auditórios, bibliotecas e acomodações decentes para o pensar e criar, da efetivação de pesquisas e extensão, da construção de aparelhos de cultura e dos instrumentos básicos para o vivenciar de uma cidadania cultural, enfim: melhoria urgente das instalações como um todo, e o cuidado dos bens intangíveis que norteiam a EDUCAÇÃO e a CULTURA, localiza-se cotidianamente, alarmante NÃO INVESTIMENTO, precisando mesmo anunciar uma bilionária olimpíada para educação e a cultura, em função dos débitos e atrasos históricos, afinal, o Brasil é finalmente, o pais do futuro...
O que devia ser prioridade e motivo para festejos planetários, são cidades com cultura, com educação bacana, querida, valorizada e atraente, itens estratégicos para quem pensa e planeja desenvolvimento, avanços. São Gonçalo não tem Teatro Municipal, como a maioria das cidades do Estado. As escolas e universidades da rede pública fluminense, não comportam o número de alunos que buscam vagas para estudar, como outras tantas cidades do estado. A FFP – UERJ, que forma com maestria professores há décadas, tem o MESMO rudimentar banheiro que estudei, em 1984. Fidel Castro, milhões de brasileiros e cariocas que me desculpem: priorizo foguetões para outra olimpíada.
*Cleise Campos é Professora de História, Atriz Bonequeira e Diretora do COMCULTURA RJ.

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