domingo, 28 de março de 2010

Opinião: O rebolar é novo modo de gingar e nova estação... Fernando Assumpção*

Sábado à tarde, para mim, é o momento mais formoso da semana. E tem acontecido desde o inicio de ano, nessas horas lindas, um encontro de jovens Sambista no Bar Vaca Atolada, na ex-decadente e reformulada, Gomes Freire.
O bar simples tem atendimento atencioso – coisa rara nos dias de hoje: pode-se conversar longamente com o acessível dono e com os afáveis garçons. Apreciar o cardápio, tipicamente mineiro, como a generosa e saborosa e que leva o nome do estabelecimento: vaca atolada, tendo o seu melhor, o preço: por menos de dez reais. Porção de aipim com manteiga de garrafa, polenta frita, também nessa mesma linha, come bem e paga o justo.
O bar é tão bacana que sua Jukebox é feita só com sambas, dos clássicos ao que tem de moderno: da Velha Guarda da Portela, passando por Aniceto do Império, Noel Rosa e Diogo Nogueira. No salão, onde se apresenta os músicos, funciona um ar condicionado que não dá conta, mas que ameniza o calor. Não existe couvert artístico, existe um acréscimo de um real em cada na cerveja e refrigerante, mas de quem consumir. Honesto.
Alem disso tudo, o que vale mesmo o meu deslocamento e mudança de rota no meu dia preferido é a voz de Nina Rosa!
Nina Rosa uma jovem cantora, com uma voz média grave, suave, que se coloca em boas notas, que não perde nenhuma oportunidade e sustenta até o fim definidos tons em um bom samba. Nina é de uma geração moderno-contemporânea, mas, menina esperta que é, sabe que um figurino, um bom vestido estilizado, feito pelas “costureiras da família”, fazem a diferença em uma apresentação de música. Nina está sempre bem vestida, com um acessório no cabelo, uma bijuteria, maquiada ou qualquer coisa que valoriza a sua natural beleza. Hoje, onde as cantoras se apresentam como quem vai à feira ou com vestimentas compradas em lojas de roupas masculinas de rua: Nina surpreende.
Os também, jovens músicos, que acompanham Nina fazem bonito e valorizam a tarde com arranjos comprometidos e sérios. O repertorio circula entre os sambas antigos – mas sem aquela onda de resgate: “vamos tocar a terceira faixa do lado B do ‘As forças da natureza’” – Isso cansa. – e sambas mais “fáceis de cantar”, onde em uma roda as pessoas podem interagir, cantar e transferir-se para aquele momento mágico que se propõem. Buchecha, marido de Nina, simpático de voz grave, excelente, quase um barítono, se coloca a disposição da amada, em duetos de casais sambistas: “Tem que Rebolar” (José Batista e Magno de Oliveira) de Clássico na voz de Dona Elizeth Cardoso e Cyro Monteiro ou em “Faixa Amarela” (Zeca Pagodinho/Jessé Pai/luiz Carlos/Beto Gago) do divertido Zeca Pagodinho.
A tarde e início de noite acabam e uma sensação de alívio ao peito apertado, de mais um sábado sereno, efetiva-se. Volto pra casa pensando no próximo, que será um sábado de outono: a mais linda estação, onde as noites são limpas e de longe se avista a Lua, e os dias plácidos e amenos.

Serviço: Roda de Samba no Botequim Vaca Atolada, das 15h às 19h
Av. Gomes Freire, 533 - Lapa (Rio de Janeiro)

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