terça-feira, 15 de setembro de 2009

José Roberto Souza Aguiar escreve sobre o "Dia do Folclore"

Tudo é Cultura
José Roberto de Souza Aguiar *

Nos anos de 1970, enquanto aluno de uma escola pública nesta cidade, cursando o que hoje equivale ao Ensino fundamental, presenciei e participei de festas comemorativas ao DIA DO FOLCLORE, justamente no mês de agosto. Entre as atividades apresentadas figuravam apresentações de danças típicas – frevo, quadrilhas como exemplos – e representações teatrais de personagens da mitologia brasileira: o curupira, o Saci-Pererê, o Caipora, etc. Eram festas divertidas, que contavam com a presença maciça de pessoas do bairro.

Palavra de origem inglesa, o termo folclore era usado pelos grupos imperialistas do século XIX, para minimizar as influências culturais das áreas de interesse comercial das grandes potências capitalistas, que agiram ferozmente sobre diversas áreas na África, na América Latina e na Ásia. Segundo o Dicionário Aurélio, define-se folclore “como o conjunto ou estudo das tradições, conhecimentos ou crenças de um povo, expressas em suas lendas, canções e costumes”. Nos anos de 1970, sob a égide de uma ditadura empresarial-militar, a idéia de diminuir a produção cultural no Brasil, promoveu uma baixa na divulgação dos movimentos populares e culturais do país, que em muitos casos contestavam as organizações políticas na época. A ideia de folclore ganhou ênfase, fato fortalecido pelo isolamento das ações culturais, contribuindo para a desvalorização da diversidade cultural. O Frevo, as quadrilhas juninas, a capoeira entre outras manifestações foram enquadradas como ações folclóricas.

Ao fim do processo ditatorial militar, no limiar do anos de 1980, a sociedade brasileira iniciou um processo de revisão de conceitos estruturais, em defesa de uma ordem mais democrática. As mudanças estariam direcionadas nas estruturas políticas e econômicas, e atingiriam em cheio as áreas de educação e cultura no país.

No século XXI, na Era da Globalização que proporcionou a ampliação das redes de comunicação, capacitando a todos a possibilidade de crescimento no campo de conhecimento e análise dos movimentos culturais difundidos no Brasil e pelo Mundo, ainda a ideia do minimalismo abrange a divulgação dos mesmos. As grandes produções e espetáculos vinculados aos interesses comerciais dominam as redes de divulgação, dificultando o exercício e as práticas culturais mais simples. Estas práticas que resistem nas ações de grupos e instituições que defendem as atividades mais populares, fortificando a resposta dos povos em luta pela própria dignidade e existência, baseando-se na defesa das afirmações culturais diversas. O termo CULTURA, que se define, segundo o mesmo dicionário como “o complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições, das manifestações artísticas, intelectuais, etc., transmitidas coletivamente, e típicos de uma sociedade, como também o conjunto dos conhecimentos adquiridos em determinados campos”. Trata-se de fundamentos concretos e abstratos que instruem a formação de ações comportamentais de uma sociedade, distinguindo-a de outros grupos sociais organizados.

Concluo na lógica que há muito caminho a percorrer rumo ao processo de democratização das ações culturais no Brasil. Construir e referendar a idéia que o Brasil se constitui num grande celeiro de manifestações culturais além daqueles divulgados pelos principais meios de comunicação pelo país referenda a meta. E, consequentemente, não mais ouvir que as manifestações culturais brasileiras, tão diversificadas e ricas, ainda são enquadradas no termo de folclore nas escolas. Tudo é cultura.

* José Roberto de Souza Aguiar - Prof. Rede Municipal (Rio) e Estadual – RJ e Secretário- Geral CPC Aracy de Almeida

Nenhum comentário: